Só de pensar no título e em começar a escrever esse texto, durante as minhas idas e vindas no transporte público, já me enche o olho de lágrima... Mas calma, não se preocupem, é só um cisco que caiu no meu olho, ou uma cebola que estou cortando, no ônibus, nada demais... Quando comecei a escrever esse texto pra despedida, eu fiquei meio em choque, sem saber o que poderia sair e com receio de acabar sendo repetitivo como no discurso recente em comemoração aos 10 anos de casamento. Vamos ver...
Quando começou a questão dessa mudança tivemos o empecilho de espera para que ficasse tudo acertado para os dois em seus respectivos empregos, a partir disso, confesso que foi reconfortante saber que nada teria que ser resolvido tão as pressas, por causa da burocracia envolvida até resolver tudo. Rotina tranquila, vida seguindo em paz até eu receber a notícia de que em pouco menos de 1 mês a mudança aconteceria, susto esse recebido por falta de comparecimento nos últimos encontros familiares, culpado. Agora sim, desespero, aflição, agonia, falta de ar, perda de sono na hora de dormir com a cabeça no travesseiro, imaginação divagando em fantasias que tentam prever como será a vida sem a presença de vocês, fantasias de como será a força e a intensidade da saudade que vai ficar grudada e me acompanhando por onde quer que eu vá, fantasias de vários momentos com a ausência de pessoas que tem a presença tão marcante e tão grandiosa nos encontros realizados, mesmo quando tem uma grande proporção de familiares. Todas essas fantasias são tão perturbadoras e surgem de repente, quando menos se espera, vem um "eles vão embora!", cai uma ficha. Passa um tempo outras coisas acontecem, a rotina segue, e pá "eles vão embora!", cai a ficha de novo. E é irremediável! Pensar mais vezes ou menos vezes não vai mudar o fato e nem adiar mais a data, fingir que não tem nada acontecendo ou ficar focando nesse assunto não muda o fato de que "eles vão embora!"
Desde pequeno eu sei, e a mamãe sempre fez questão de lembrar pra Gaby e pra mim, que tínhamos os 2 irmãos que moravam no Ceará e que cuidavam da vó. Eu cresci acostumado com a sua presença, Wesley: passei o fim da infância, a pré-adolescência, a adolescência, a juventude, e me tornei adulto convivendo com você, aprendendo a te admirar, a te entender e a medida que o tempo ia passando, vi o quão especial você é como pessoa, como ser humano, como homem. Com meu crescimento pessoal e amadurecimento, fui percebendo e conseguindo atravessar a complexidade da sua personalidade e te ver com transparência, demorou um pouco e eu tive que me entender como ser até te enxergar completamente, de maneira exposta e vulnerável, despido de todos os bloqueios e muros sentimentais de auto-preservação que compreendo e não julgo. Lete chegou no meio desse meu crescimento, com muita receptividade e entrega, facilmente criando vínculos e afetos familiares, ultrapassando a barreira de cunhada e chegando a ser uma irmã mais velha com toda a sua empatia e jovialidade ao aceitar todas as propostas e banalidades dos 2 adolescentes-estudantes lá de casa. Dessa admirável união veio a Lara. A primeira dessa nova geração da nossa família, que foi acompanhada por todos os demais pequenos, e que trouxe pra vida de vocês a benção inexplicável e imensurável de amor completo e incondicional e o título mais importante da vida de qualquer ser humano, o título mais importante da ordem universal: o de ser pai e mãe. Pra deixar bem exposto que Lete não demorou muito pra chegar é só perceber que eu convivi mais com vocês como casal do que só com Wesley como solteiro. Na verdade eu convivi mais com você como pai do que como cara solteiro.
Com o decorrer do tempo eu venho deixando de conviver com gente que me aproximei muito: algumas amizades que tive distanciamento por motivos específicos, colegas do trabalho por mudança de direção e objetivos pessoais, pessoas muito queridas perdidas pela naturalidade da morte. Venho perdendo cada vez mais pessoas e a cada vez são aquelas mais próximas ainda. Dizem que as perdas vem pra nos deixar mais fortes e pra valorizar aquilo que não se tem mais, mas tenho que confessar uma coisa: eu preferia continuar sendo fraco e dando menos valor, só pra continuar mais próximo viu, até mesmo porque, a sensação que mais me deixa triste na vida é a de me sentir sozinho.
Eu sei que tenho que tentar olhar pelo lado positivo e ficar feliz pelas conquistas, pois é um desejo antigo que foi realizado, que é uma grande mudança pra vocês também, que o costume da distância nesse início será difícil pra vocês também, mas ao pensar sobre isso, ao falar sobre isso, infelizmente, só consigo ser completamente egoísta e dar importância ao que eu sinto e/ou vou sentir, não por maldade, ou por não me importar com o que as outras pessoas também estão sentindo, mas porque convivo mais com os meus próprios sentimentos do que com os dos demais, ou com os que estão sendo compartilhados sobre a situação. Não participei e provavelmente não teria maturidade emocional de partilhar nenhum diálogo que tenha existido, além deste, por causa desse tema e certeza que teria sido de grande choradeira.
Tem tanta gente que não tem a oportunidade de ser tão querido pela família. Tem tanta gente que não recebe um pouco de carinho daqueles que o rodeiam. Tem tanta gente que não tem a satisfação de se sentir amada nesse mundo. Pelo menos isso eu posso garantir a vocês, você são muito queridos, nós temos muito carinho por vocês, e com toda certeza, nós amamos muito vocês. Dito isso, vocês podem ter a arrogância e a soberba de exibirem pro mundo todo que: vocês são especiais, importantes, amados e muito queridos pela família que vos cercam.
Sem prolongar mais, digo que esse texto não tem ponto final, ele acaba em reticências porque essa história não acaba agora e nem vai ter final, ela apenas vai seguir. Continua...
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Você sempre arrasa meu amigo. Bjs
ResponderExcluirUm lindo texto hein Gabriel,como sempre. Nós te amamos.😘😘
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